segunda-feira, 3 de março de 2008

Dói incomoda e demora..

Eu tenho um sério problema para aceitar tuudo o que as mulheres precisam passar para continuar firme e forte no mundo. Ah! Tudo dói, demora, incomoda, não passa despercebido. É! Pensa comigo: Cólica menstrual - dói; usar absorvente - incomoda; carregar e ter um filho - dói, incomoda e demora; arrumar o cabelo - demora; maquiagem - demora; sobrancelha - dói para tirar, e se não tirar não passa despercebido. Esse último é um dos meus grandes problemas, pois sigo minha vida na boa, mas sempre tem alguém que precisa falar: "ah, tá na hora de tirar, hein?". Sem comentários.

Ai, passeando no Sem dúvida - um ótimo blog sobre tudo, gostoso de ler - gostei mto desse texto da sobrancelha e achei legal colocar aqui.

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Há uns quatro meses comecei a reparar se as pessoas tiravam a sobrancelha ou não. Isso tem acabado com a minha tranqüilidade a ponto de comparar as pessoas em níveis de Penélope Cruz. Muito Penélope Cruz, só um pouco, era Penélope Cruz mas já cresceu, tá entre Juliana Paes e Malu Mader, não, tá meio Malu Mader na adolescência. Algo como seria uma irmã do Toni Ramos se eu soubesse que ele tem irmã e que a mãe levou pro cabeleireiro em tempo.

Eu simplesmente me tornei uma obcecada pelo assunto desde que a Simone me perguntou: “Fê, por que você não tira a sua sobrancelha? Só um pouco, ia ficar melhor”.

Vocês não tem a idéia de como uma informação como “ficar melhor em qualquer coisa” mexa comigo. Acabou todo o resto do mundo, política cambial, taxa de lixo, assalto do step do meu carro, o importante agora é melhorar, mesmo que qualquer pouco em qualquer coisa. Tirar um pêlo já seria me aproximar do que uma outra pessoa chamou, num momento de lucidez ou não, de melhor.

Comecei a andar na rua e olhar a sobrancelha das pessoas e pensar em como eu me atrasei em não pensar nisso. Que covardia, que medo de sofrer, que apego à feiúra. Um dia na praia eu vi uma outra mulher com a sobrancelha sem aparo. Comecei a pensar na cara de pena das pessoas olhando pra ela e como o olhar da Simone que antes tava na minha xícara de café se hipnotizou pelo meu rosto menos bonito. Deve crescer bicho.

Decidi tirar. E isso foi no meio do metrô de Buenos Aires quando não tirava os olhos de uma mulher. Às vezes faço um exercício estúpido pra passar o tempo no metrô de São Paulo e é com muita timidez que assumo aqui. Fico olhando pra todas as pessoas, uma por uma e pensando: “Bom, daquela ali, se eu pudesse escolher uma coisa pra ter seria....hmmm, o sapato? Não, brega. A bolsa? Não, velha. Ah, queria ter o ombro parecido”. Vê se pode, mas gente, respeitem, eu sou assim. Mais vale eu que assumo, sei lá, mentalizem algo positivo a meu respeito que essa coisa ruim será compensada.

Mas então, nessa mulher eu não achava coisa alguma que fosse bonita. Aff, que mulher feia, velha, brega. Até que olhei, olhei, olhei e não, não achei que o encanto fosse a sobrancelha. Mas pensei “cara, até essa puta mulher feia tira, por que eu não?”

Preconceituoso? Sim. Sujo? Sim. Agora eu já falei. Tem perdão? Tomara. Mas tive até raiva dela.

Voltei pra São Paulo e fui correndo tirar. A mulher do cabeleireiro ainda brigava comigo “mas pára de tirar tanto, vai ficar esquisita”. Aquilo me irritava porque não sei como ela poderia pensar diferente do mundo todo. Eu fui até outro país conferir, confia, saco. Menos pêlo, mais bonita, mais bonita, nada parecido com esquisita.

E quer saber? Tirei e ninguém que eu não tenha avisado reparou. Acho que vou voltar de metrô amanhã do trabalho pra ver se repercute. Que ressaca moral, não agüento mais dar close nos pêlos da cara dos outros.

O caso é tão sério que entrei no word e pensei “vou escrever um texto sobre como conseguimos prender nossa atenção numa coisa só do nada e isso não sai da cabeça da gente. Na seqüência darei alguns exemplos”.

Só dei um.